Eficiência não é suficiente, é necessário estratégia
A minha empresa ser a melhor no que faz, tendo o melhor produto e o menor custo, é suficiente para manter a competitividade de meu negócio?
A resposta, surpreendentemente, é não. De fato, ter a melhor operação é algo muito bom, mas não é suficiente para manter o negócio competitivo e viável à longo prazo. Afinal, de que serve a melhor fábrica de máquinas de escrever nos dias atuais? Ou, o que seria da Jeep se ela continuasse apenas produzindo veículos para guerra?
Bom, se ser a melhor operacionalmente não é suficiente, o que fazer?
A resposta é uma boa estratégia. É necessário que a empresa desenvolva uma boa estratégia para lidar com o ambiente em que está inserida, se diferenciando de concorrentes e entregando valor aos consumidores.
Mas o que é estratégia empresarial? Bom, primeiramente é necessário entender as diferenças entre o que é eficiência, e o que é estratégia. A eficiência, mais amplamente falando, diz respeito à melhoria de processos, redução de custos, melhoria da qualidade do produto ou serviço, melhoria do relacionamento com o cliente etc. A eficiência se preocupa em fazer as coisas da maneira certa.
A estratégia, por sua vez, se preocupa em fazer as coisas certas. Isto é, a estratégia tenta entender quais são as necessidades do mercado e como atende-las, como se posicionar, como se diferenciar de seus concorrentes, como entregar valor etc. A Jeep, por exemplo, percebeu que iria fracassar se continuasse gastando toda sua energia na melhoria da produção de seus veículos de guerra. Ela percebeu que o mercado não precisava mais destes veículos, e que o mercado de veículos utilitários, por sua vez, estava crescendo. Era necessário mudar sua estratégia, mesmo sofrendo com o custo de transição.
Exercício mental de Michael E. Porter (1996)
Para esclarecer ainda mais esta distinção, e para elucidar o porquê a estratégia é importante para o seu negócio, façamos o exercício mental extraído do artigo de Michael E. Porter publicado em 1996 na Harvard Business Review.
O exercício elaborado pelo autor consiste no seguinte: imagine que as empresas de determinado mercado disputam só por meio da eficiência operacional. Isto significa que todas empresas deste mercado buscam melhorar seus processos internos para reduzir seus custos de produção, e, consequentemente, começam a copiar as melhores práticas daquelas que estão à frente nesta 'corrida'. Ou seja, cada vez que uma empresa cria um novo processo, consegue um novo fornecedor, reinventa a forma de promover seus produtos, enfim, cria novas formas de melhorar sua eficiência, as demais empresas, assim que conseguirem, irão imitar o processo para não ficarem para trás.
Desta forma, as empresas começam a ficar cada vez mais semelhantes entre si, com produtos cada vez mais similares. Nesta disputa hipotética, o consumidor não percebe qualquer diferença entre os produtos ofertados, e, portanto, para ele tanto faz de qual empresa comprar. Devido à isto, com o passar do tempo, as empresas começam a possuir uma fatia de mercado semelhante, e à medida que novos concorrentes vão entrando, a fatia de mercado vai ficando proporcionalmente menor para cada um dos players. Isto é mutuamente destrutivo para as empresas que atuam nesse mercado!
Ah, também é interessante destacar que nesta disputa, há menos valor entregue ao mercado, pois só há um produto sendo oferecido.
E como a estratégia pode ajudar?
E é aí, que a estratégia entra. Claro que a eficiência é importante (na verdade ela é fundamental!), mas com ela tão somente, a empresa poderá se tornar apenas 'mais uma'. Sendo assim, é necessário que os empreendedores e gestores desenvolvam estratégias para abordar o mercado, pensando em como entregar valor aos consumidores; principalmente em mercados em que as necessidades não foram supridas, ou sequer descobertas.
Naquela disputa hipotética, qualquer empresa que faça diferente (claro, entregando valor), mesmo que não seja referência em eficiência operacional, irá conseguir vantagem competitiva pelo simples fato de ofertar algo diferente das demais.
Imagine que aquele mercado seja o de sapatos, e que todas as empresas fabricam apenas sapatos pretos, pois a tinta preta é a mais barata e eficiente. Contudo, as pessoas sentem a necessidade de se vestirem ao próprio gosto, personalizando sua aparência para se sentirem mais confortáveis. E pensando nisso, uma empresa decidi fabricar sapatos vermelhos, mesmo cobrando um preço um pouco superior à média do mercado. Desta forma, alguns consumidores irão optar pelo novo produto desta empresa, pois percebem valor nesta pequena customização.
Agindo estrategicamente a empresa não irá disputar à tapas o mercado de sapatos pretos, e irá aproveitar sozinha o mercado de sapatos vermelhos. Na verdade, a empresa irá aproveitar este novo mercado até que os concorrentes percebam que a simples redução de custo não é suficiente para uma boa competitividade, e, consequentemente, também decidam fabricar sapatos vermelhos.
Em resumo...
De maneira geral, esta forma de disputa, ancorada em diferentes estratégias, é benéfica tanto para as empresas que conseguirem se posicionarem bem no mercado, quanto para os consumidores, pois eles terão mais opções à escolha.
Claro que a estratégia é muito mais complexa do que isto, mas a intenção deste breve artigo é despertar a necessidade em se pensar estrategicamente, fazendo com que sua empresa seja diferente das demais, ao invés de se preocupar somente com a redução de custos, por exemplo.
E aí?! Qual é a estratégia da sua empresa ou da empresa em que você trabalha? Como ela se diferencia das demais? Como ela entrega valor aos consumidores?
Nos próximos artigos, irei apresentar algumas ferramentas que irão te auxiliar a responder estas perguntas, fazendo com que você tome melhores decisões em sua empresa ou carreira.
Até lá!
Vale ressaltar que a ideia central deste artigo foi extraída do artigo: What Is Strategy, de Michael E. Porter, publicado em 1996 na HBR. Recomendo muito o artigo, principalmente àqueles que possuem um negócio, mesmo que pequeno ou uma MEI, e também para aqueles que ocupam uma cadeira de gestão em alguma empresa. Abaixo, link para o artigo original:
https://is.muni.cz/el/1456/podzim2013/MPH_BUPM/um/43756461/Porter_What_is_Strategy_1996.pdf
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